Desflorestação e o ecoturismo: o grande PARADOXO

        Esta página articula o conceito de paradoxo na relação entre a desflorestação excessiva nas florestas do Paraíso (Indonésia) com a falsa preocupação das sociedades ocidentais e com o ecoturismo como solução o problema da desflorestação.


Desflorestação – da necessidade à extinção
        Para abordar o tema paradoxo escolhi um artigo sobre a desflorestação, publicado pela revista “Courier International” em 2009, e diz o seguinte:

“Un bûcheron commence à tronçonner un grand merbau, dans la Forêt du Paradis, à l’extrémité nord-ouest de l’Irian Jaya. L’exploitation du bois est illégale dans cette région protégé, mais cela n’empêche guère les coupes sauvages. Un mètre cube de merbau pourra être vendu environ 1500 euros au Japon ou aux Etats-Unis, principaux importateurs, le bûcheron ne récupérant que l’équivalent de 70 euros, le plus souvent sous forme de dons en nature. Bien que l’Etat indonésien fasse de réels efforts pour la protéger, la Forêt du Paradis est menacée de disparition dans le quinze à vingt ans à venir sous la pression des consommateurs-prédateurs de pays riches.”

(Déforestation, 2009)

        Resumindo, este artigo fala-nos sobre a ilegal desflorestação que se faz na Papua, que entre os anos 1973 e 2000 esta zona denominou-se “Irian Jaya”, para dar resposta ao consumo de madeira, que neste artigo, é de uma árvore especifica, a Merbau.
É aqui nesta zona onde se situa uma parte das Florestas do Paraíso, uma floresta de grande importância mundial pertencente à região de florestas do Sudeste da Ásia e Pacífico e que cobre as ilhas da Indonésia, Papua Nova Guiné e as Ilhas Salomão. Esta região é incrivelmente diversificada pois acolhe centenas de populações indígenas e variadíssimas espécies, como as 38 espécies da ave do paraíso, encontradas nas ilhas da Nova Guiné. “Muitas das grandes áreas intactas de floresta já foram destruídas – 72% na Indonésia e 60% na Papua Nova Guiné” (Greenpeace) – e esta desflorestação não pára, crescendo a um ritmo alucinante devido às pressões do consumo de madeira pelos países desenvolvidos como o Japão ou os Estados Unidos da América.
        Como tudo na vida, a exploração de madeira tem um ciclo até chegar às mãos do consumidor. O primeiro passo é a obtenção de matéria-prima que se encontra, neste caso, na Papua Nova Guiné e é proveniente da árvore Merbau. Estas árvores são cortadas pelos lenhadores de forma ilegal e são exportadas para a China. Para termos uma ideia em valores, um estudo revela-nos que entre 76 e 80% da exploração de madeira na Indonésia é feita de forma ilegal, enquanto mais de 90% da extração de madeira na Papua Nova Guiné ocorrem sem respeitar a Constituição ou a legislação florestal do país. O corte ilegal não causa apenas um dano irreparável às florestas e aos sistemas ecológicos como também ameaça populações indígenas que dependem das florestas para sua sobrevivência.
        Na China, para tornarem a madeira ‘legal’, processam-na e exportam-na para as grandes potencias económicas mundiais, ou como refere o texto, “(..) consommateurs-prédateurs de pays riches.” (Déforestation, 2009) – consumidores-predadores dos países ricos.
        Um outro problema, para além do ambiental, é o problema social e económico, ora vejamos, por cada metro3 desta árvore os exportadores, como a China, ganham em média 1500€ o que torna esta madeira, sendo ela tropical, cara e não acessível a todos os bolsos. A quantia que reverte para o lenhador é de 70€ e nem sempre é paga em dinheiro podendo ser em géneros alimentares. Ora esta situação faz-nos pensar, se esta madeira vale tanto como é que os trabalhadores, que põem o seu trabalho em risco podendo ser apanhados pelo Estado, ganham tão pouco? A culpa também não é dos consumidores porque o ciclo de produção não é de senso comum. Podemos concluir então que são as exportadoras e fornecedores que recebem a maioria das receitas geradas por este massacre à Mãe Natureza. Não seria altura de começarmos a perguntar-nos para onde vai o dinheiro e como podemos parar esta exploração massiva e dar descanso a “quem” nos dá tudo sem pedir nada em troca?
        Torna-se óbvio qual o paradoxo encontrado aqui: todos nós necessitamos de madeira para construir a nossa mobília, para nos aquecermos no Inverno facto que nunca interferiu com o ritmo de crescimento da natureza até “agora”. Cada vez mais queremos em excesso objectos desnecessários, que apenas servem para encher as nossas casas e o nosso ego sem olhar a meios para atingir os fins, sem muitas vezes olharmos em redor e pensar “como é que isto veio aqui parar?” mas se perguntarmos a uma qualquer pessoa sobre as desflorestação nas florestas da Indonésia responder-nos-ão com toda a firmeza “SOU CONTRA!”. E que tal olharmos para dentro de nossas casas e pensar que as nossas atitudes não são as mais correctas.


(Des)necessário vs. Consumo vs. Falsa preocupação.

        Esta relação é a realidade dos nossos dias e para a mudar é necessário não só terminar a desflorestação ilegal e irracional, muitas vezes potenciada pelos próprios governos, mas também acabarmos com o consumo excessivo feito pela nossa parte.

Relação entre o Ecoturismo e a Desflorestação

        O ecoturismo é uma sub-actividade do turismo cujo conceito se baseia na sustentabilidade e no desenvolvimento sustentável, trazendo para o destino turístico benefícios culturais, ambientais e económicos. Este conceito surge a partir dos anos 60 quando os ecologistas e ambientalistas se começam a preocupar com o uso excessivo dos recursos naturais e com a destruição da biodiversidade em prol das necessidades económicas.
        Podemos concluir, ao ler o texto de Björk, que o ecoturismo é por ele próprio um paradoxo pois por um lado pretende-se sensibilizar os turistas para o consumo excessivo de recursos, combater a “ocidentalização” de culturas indígenas e tornar o ecoturismo num turismo de nichos mas, por outro lado, as consequências deste tipo de turismo podem ser contrárias aos objectivos principais e cada vez mais se tem vindo a tornar um turismo de massas.
        Uma medida a adoptar para atenuar a desflorestação massiva nas florestas do Paraíso pode ser o ecoturismo pois, teoricamente, ele trará os seguintes benefícios:
  • Minimizes impact;
  • Builds environmental and cultural awareness and respect;
  • Provides positive experiences for both visitors and hosts;
  • Provides direct financial benefits for conservation;
  • Provides financial benefits an empowerment for local people;
  • Raises sensitivity to the host country’s political, environmental and social climate;
  • Supports international human rights and labor agreements.
(Björk)

        Se estes requisitos forem preenchidos, a desflorestação nas florestas da Indonésia diminuirá pois haverá por parte da população local uma maior preservação do local para ser apreciado pelos turistas, mas como nos indica o texto: “The term ‘eco-‘ in ecotourism has generally been linked to the ecological concept in allusion to ecologically sustainable. However (…) the ‘eco-‘ term in ecotourism does also have an economic development dimension.” (Björk) ou seja, o ecoturismo pode trazer implicações que não se baseiam na sustentabilidade do destino mas sim no aumento da economia, tornando-o num turismo de massas e consequentemente num local onde o consumo de recursos se torne excessivo para construir infra-estruras de apoio ao turismo.


        Este é o paradoxo do ecoturismo relativamente à desflorestação.